ENTREVISTAS





Entrevista e edição: Paula Bassi. Realizada em: 9 setembro de 2013



Walter Roberto Correia
 
Coordenador do XII Seminário de Educação Física Escolar fala sobre a aproximação acadêmica e profissional, tema em torno do qual se concentra o evento este ano.



O caminho entre a inspiração e a ação

A Escola de Educação Física e Esporte recebe em novembro a 12ª edição do Seminário de Educação Física Escolar. Neste ano, o tema do evento é “A prática docente da Educação Física Escolar: da inspiração à ação”. O foco será a aproximação entre reflexão e prática, entre a academia e professores do ensino básico.  Leia, abaixo, entrevista com o Prof. Dr. Walter Roberto Correia, coordenador do evento.

Fale um pouco sobre o tema deste ano: “A Prática Docente da Educação Física Escolar: da inspiração à ação”.

Correia - Nossa pretensão é aproximar pesquisadores da universidade e professores do ensino básico e da formação continuada. Os pesquisadores, ao longo de sua trajetória, constroem um repertório de experiências que implica em conhecimento. Os professores do ensino básico, por sua vez, detêm dilemas e soluções profissionais em seu cotidiano.
Nós, pesquisadores, deveríamos criar condições de comunicação entre esses grupos e devolver uma parte da nossa produção, colocando-nos como colaboradores numa atividade mais cooperativa e solidária com a política educacional e com as práticas educativas.
Além da ação no ensino básico, interessa-nos também a formação do professor. Essas duas esferas são relevantes e estratégicas para nutrir o próprio processo de formação na  licenciatura da EEFE, e também para aqueles interessados na produção de conhecimento científico no âmbito da pedagogia do movimento.

A pretensão de superar o distanciamento e a sobreposição de um saber sobre o outro é o principal objetivo do evento?

Correia - Sim. A esfera profissional e a esfera acadêmica dispõem de especificidades muito distintas. As condições que nós acadêmicos detemos e de que dispomos para produzir o nosso saber, torná-lo público e interferir na realidade são muito diferentes das condições vivenciadas pelos profissionais que atuam no sistema educacional. Nessa esfera, há uma diversidade e uma desigualdade de condições também muito grande entre o ensino público e o privado.
No fazer acadêmico, a análise é muito proeminente. Por outro lado, os professores da educação básica, ao elaborarem práticas e ações educacionais efetivas, adquirem em seu trabalho uma tonalidade mais destacada daquilo que poderíamos chamar de síntese. Há uma necessidade dialética em que a análise e síntese, ação e reflexão, em que as contribuições e partilhas acadêmico-profissionais se complementam.

No evento, serão apresentados pesquisas e relatos de experiência. Que tipos de trabalhos vocês esperam receber?

Correia - Relatos de profissionais sobre aquilo que realizam, as dificuldades, os desafios, as superações e soluções. Também serão aceitos trabalhos acadêmicos em torno do tema da prática docente. Queremos ampliar a participação de professores do ensino básico, de docentes que atuam com a formação de professores e aqueles engajados nos órgãos técnicos governamentais, responsáveis pela implantação de políticas públicas e pelo processo de formação permanente de professores.

Os trabalhos e relatos apresentados no evento serão publicados na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. Fale mais sobre essa parceria.

Correia - Nós tivemos nas duas últimas edições um grande apoio da RBEFE por intermédio de seus editores, primeiramente o Prof. Dr.  Umberto Cesar Corrêa e atualmente o Prof. Dr. Alexandre Moreira, que entenderam a importância de a revista abrir espaço para aquilo que nós produzimos de reflexão, de anúncio e denúncia crítica das pedagogias desenvolvidas. Além dos trabalhos e relatos, nós teremos alguns ensaios desenvolvidos pelos professores do Departamento de Pedagogia do Movimento do Corpo Humano.
Este ano, o conteúdo será disponibilizado na internet gratuitamente. A intenção é estimularmos o acesso não apenas dos congressistas, mas para além deles, de modo a aumentarmos a visibilidade da produção de conhecimento na área. O campo de formação de professores de educação física escolar tem tido um aumento expressivo na publicação e a estratégia de estimularmos o acesso online trará uma visibilidade e até a submissão de novos trabalhos e pesquisas.

Ao participar do seminário, o professor de ensino básico também entrará em contato com novos conhecimentos, também poderá conhecer da visão acadêmica dos problemas?

Correia - Sim, pois o evento está estruturado na partilha de experiências e tem seus espaços para uma elaboração crítico-reflexiva sobre o que se faz a partir de alguns referenciais teóricos. É uma partilha multidisciplinar e multidimensional. Nós procuramos otimizar a diversidade política e pedagógica dos participantes, sejam eles conferencistas, professores, pesquisadores, técnicos. A temática da prática e do saber docente foi escolhida de uma maneira estratégica para que nós possamos explorar a pluralidade e a diversidade de concepções pedagógicas em torno da intervenção concreta desses sujeitos no cotidiano escolar.

Você é coordenador do Seminário desde a décima edição e participou de outras anteriores como ouvinte e colaborador. Você vê uma evolução de conceitos?

Correia - Essa pergunta é muito pertinente, pois ela revela também quais foram as temáticas que tomaram a EEFE e também como a nossa escola e seus interlocutores, professores, estabeleceram uma leitura das demandas da realidade. As primeiras edições do seminário estavam preocupadas com o objetivo, o significado e a especificidade da área - a educação física escolar para que, ou o que a distingue como componente curricular das demais áreas, qual é a sua finalidade, qual é a sua contribuição específica.

No final dos anos 90, início dos anos 2000, nós tivemos uma reflexão a partir de um olhar mais focado em termos da sua contribuição e das suas finalidades para o fim da escolarização. Depois, nos concentramos na questão do conhecimento, da relevância e do instrumental das pesquisas qualitativas. Nas duas últimas edições, identificamos a necessidade de um olhar a partir da ação e do saber docente, da experiência concreta dentro da escola. Nossa preocupação é fazer uma incursão sobre a realidade escolar na perspectiva dos protagonistas. 

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Entrevista anterior:

Entrevista publicada no Blog da RBEFE em 30 de novembro de 2012.